Dentro de uma hora, Dean e eu chegávamos ao novo apartamento da minha tia em Long Island, e ela achava-se em complicadas negociações com uns pintores que eram amigos da família, discutindo o preço, enquanto nós subíamos as escadas vindos de São Francisco.
- Sal, o Dean pode cá ficar alguns dias e depois tem de ir-se embora, compreendes? - preveniu-me a minha tia.
Terminara a viagem. À noite, Dean e eu fomos dar um passeio por entre os gasómetros e pontes férreas e luzes de nevoeiro de Long Island. Lembro-me dele debaixo de um candeeiro de rua.
- Quando passámos pelo outro candeeiro eu ia dizer-te mais uma coisa, Sal, mas agora vou continuar entre parêntesis com um novo raciocínio e, quando passarmos ao seguinte, eu regresso ao assunto original, concordas?
Certamente que concordava. Estávamos tão habituados a viajar que tínhamos de andar por toda Long Island, mas não havia mais terra, só o oceano Atlântico, e era esse o nosso limite. Demos as mãos e concordámos que seríamos amigos para sempre.
Jack Kerouac, Pela Estrada Fora, Lisboa, Relógio d'Água, 1999, pág. 323
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